Raízes holandesas que se aprofundam em terrenos goianos

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Com o trabalho no campo herdado dos avós, Charles não pensa em ‘desgarrar’ da terra

POR EMILIANO CAPOZOLI, DE RIO VERDE (GO)*EMI_8996

Seu primeiro banho em Goiás foi em uma bica d’água fria parecida com aquela que, hoje, 30 anos depois, lavou o prato depois do almoço. Nas mãos da sua mãe Ineta, filha de holandeses, mal sabia que ali ficaria por tanto tempo. “Eu me sinto enraizado nessa terra. Pode todo mundo sair daqui que eu não saio”, brinca Charles Louis Peeters sentado em uma mesa de madeira com um prato fundo cheio de comida feita no fogão à lenha ao seu lado.

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Feliz com a boa expectativa para a safrinha de 2015, seus olhos verdes brilham ainda mais quando toca no assunto. A plantação já quase toda embonecada e mais da metade vendida. As terras da Fazenda Vargem Grande, uma das propriedades que Peeters cultiva soja, milho e algodão, foram quase todas cobertas de sementes híbridas na janela ideal: entre primeiro e vinte de fevereiro.  “Final de abril e maio tivemos uma chuva ótima. Lembro que eu estava aqui na lavoura quando ela caiu”, conta.

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Fugindo de uma Europa devastada pela segunda guerra, seus avós paternos partiram do porto de Roterdã, na Holanda, um dia depois de se casarem.  Para baratear a viagem, Louis e Helena vieram para o Brasil cuidando de vacas no porão do navio. A pouca bagagem veio entre os estábulos. Ali já começava a relação da família com o campo.

Hoje em dia, eles ficariam orgulhosos em ver seu neto. Peeters comanda uma área verde equivalente a quase metade da terra natal de seus avós. Para se ter uma ideia, esse ano, ele plantou 2.500 hectares de milho na safrinha. Maastricht, no sul da Holanda, tem um território de 6.006 hectares.

Primogênito, ele tem outras duas irmãs. Ambas trabalham no escritório em Rio Verde, Goiás. Já ele prefere o ar-condicionado da picape a caminho do campo. Sempre gostou de sujar as botas de terra. “Quando eu estava no primeiro ano da faculdade, já tinha certeza do que queria da minha vida. Meu pai sempre fez questão de me ensinar tudo. Com 11 anos eu já dirigia trator. Com 13, colhedeira e máquinas grandes”.

Formado em engenharia agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e cheio de experiências com a terra, Peeters frequenta reuniões importantes na fazenda desde seus 19 anos. Porém se considera com apenas 8 anos trabalho nas terras da família. “Esse é o período que passei momentos bons e ruins. Aí sim posso dizer que fiz parte da gestão”.

Marido de Paula, que conheceu em seus inesquecíveis tempos de faculdade em Piracicaba, interior de São Paulo, ele acabou de ganhar seu primeiro filho, o Augusto. Brincando, diz que a solução para a sua lavoura seria ter o segundo. “Assim eu fico na colhedora, um na plantadora e o terceiro no pulverizador. O futuro é a família fazer tudo no campo”. Pelo visto, o gosto que seus avós trouxeram do lado de lá do Atlântico,passará por muitas outras gerações.EMI_9020

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