Tínhamos entrevista e visita marcada para a tarde de hoje em Porto Velho, ou seja, tínhamos que chegar até a hora do almoço. Deu tempo. Como sempre, partimos cedo.
Ali nos despedimos de Tadeu, nosso motorista que gosta de moda de viola e reggae. O único problema é que quando toca Bob Marley ele não enxerga mais as lombadas. Vai saber. Fiquei preocupado e o aconselhei a ouvir mais Tonico e Tinoco. Aliás lhe entreguei um USB cheio delas. Rodrigo não o verá mais, eu o verei semana que vem quando faremos o segundo trecho do trabalho. Subiremos de Cuiabá até Santarém, mais de 1700km estradão à fora. Aja moda de viola.
Fomos deixar nossas malas em um hotel que Rodrigo conhecia. O hall do hotel era grande e vazio. No fundo um recepcionista afogado pelo balcão não nos viu entrar. Larguei minha mochila no chão para fazer uma foto do cenário. Quando me dei conta, um “mordomo fantasma, vestido de cinza, já tinha carregado minhas roupas.
Fichas preenchidas, malas no elevador descobrimos que o hotel não tinha internet. Corremos para o vizinho.
Durante a tarde conheceríamos o Porto Público de Porto Velho. Passamos o dia seguindo o gerente do lugar. É estranho, mas ele parecia o filho do Milton Neves com o Datena. Aquele tipo meio toro forte de cabelos grisalhos, imponente. Pior foi ele falando o que eu tinha que fotografar. Imagine como nós fotógrafos adoramos isso. Sem contar que ele falava no celular dirigindo uma caminhonete cabine dupla branca a 80km/h dentro da cidade. Vai saber, deve ser o rei do barco. Cada pé de café seu ele amarra um barco com uma boiada e ainda sobra para a invernada.
No porto, conhecemos como é feita a descarga da soja e em seguida, como as barcaças são carregadas. Aqui fechamos a primeira etapa da nossa viagem que começou em Campo Novo de Parecis e Sapezal, região oeste do Mato Grosso e termina agora no porto de Porto Velho, onde a carga de soja sobe de barco via Rio Madeira até Itacoatiara. Lá os transatlânticos levarão a soja para a Europa e Ásia.
O sol nesse dia, não muito diferente dos outros, estava castigando a equipe. Eu e o Rodrigo na beira do Madeira.
O esquema de descarga dos caminhões e carga das barcaças é simples. Depois de fazer fila e esperar, os caminhões passam pela primeira parte do processo. Ali são recolhidas amostras da soja para analise para ver se o mesmo produto que saiu do produtor chegou ao destino final. Pode acontecer da soja ser trocada, alterada ou até misturada estrada a fora.
Depois de feita a analise o caminhão vai para o tombador. É a parte mais impressionante. Com a orientação dos operários do porto, o carreteiro estaciona o caminhão em uma esteira que será levantada em forma de modo a formar uma espécie de rampa. A cabine do caminhão chega a ficar uns 30 metros de altura, enquanto que a traseira quase encosta no chão. Assim os grão são todos despejados.
O que cai no chão é varrido e juntado ao restante.
Seguindo por esteiras a soja é levada até as barcaças, espécie de container flutuante. Cada uma delas, leva até 2 mil toneladas, o equivalente a 50 caminhões bi-trem. Segundo o pessoal do porto um compartimento desse demora em torno de 3 horas para ser carregado. Isso quando não chove e o trabalho tem que ser interrompido.
O coletivo de barcaça é comboio. Um comboio é levado por um empurrador. Como se fosse uma locomotiva hídrica que empurra ao invés de puxar.
Depois de um dia longo de trabalho, saímos para jantar em um restaurante que o Rodrigo tinha sugerido. Era domingo, pegamos um táxi e fomos salivando comer um peixe na beira do Rio Madeira. Fechado. O motorista nos sugeriu um outro restaurante. Fechado também. Terceira opção, vazia e escura. Acabamos nos rendendo uma barraca/restaurante em uma praça cheia de gente. No anuncio do lado de fora dizia que vendiam picanha na chapa. Antes tivesse fechado.